domingo, 29 de setembro de 2019

Amar(elo)


Setembro amarelo é o mês de falarmos sobre o amor à vida, sobre prevenção ao suicídio. Estava lendo o livro Confiança cega, de Brennan Manning e me deparei com esses trechos:

“A fé nasce da experiência pessoal com Jesus como Senhor. Esperança é o ato de acreditar na promessa de Jesus acompanhada pela expectativa de cumprimento. Confiança é o feliz casamento da fé com a esperança.”

“Fé + esperança = confiança.”

A experiência é fundamental para conhecermos Jesus. Sem ela, não conseguimos colocar em prática o que lemos na bíblia. A leitura é importante, mas a leitura pela leitura não garante nosso relacionamento com Jesus Cristo. Quando andamos com Ele queremos mais, não nos contentamos apenas com a leitura. A prática da confiança se dá quando realmente praticamos a fé e a esperança.
E o que isso tem a ver com o setembro amarelo, suicídio, valorização da vida?

Assim que li esses trechos, me lembrei do versículo de Hebreus 11:1:

“A fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos”.

Pense que você está numa largada para enfrentar uma corrida. É um caminho difícil, existem obstáculos, falhas, caminhos alternativos para pegarmos atalhos, outros corredores que tentam nos atrapalhar, enfim, você pode imaginar todos os problemas que existem nessa corrida porque ela representa a sua vida, a sua jornada até aqui.

Nossos alvos na vida podem ser diferentes, dependendo do ponto de vista. Na verdade, podemos ter vários alvos: sonhos, projetos, desejos, cumprimento de pequenas metas; mas quando os alcançamos, é como se fossem pequenas chegadas pela corrida, e logo depois delas há uma nova largada, porque são alvos passageiros e não podem definir nosso ponto de chegada final. Precisamos deles para viver, mas não podem ser nosso alvo principal. Nosso alvo principal precisa ser o nosso Pai, Criador, que nos fez à sua imagem e semelhança. Deus precisa ser o alvo e esse alvo é a continuação da vida eterna, com muito amor. A nossa vida eterna não se inicia apenas quando chegamos correndo, exaustos, no final da jornada, mas quando aceitamos viver com Jesus, essa vida eterna pode começar em qualquer momento dessa corrida.

No meio dessa caminhada a gente sente fome, sede, cansaço e há copos de água por esse caminho e stands para descansarmos. Os copos de água são oferecidos por Jesus, e você não precisa pagar. Ele também te oferece uma refeição deliciosa e uma cama para você descansar um pouco e recuperar as forças para voltar à corrida. Tudo isso de graça e Jesus fica ao seu lado sempre, te ajudando a permanecer firme porque está junto contigo nessa, Ele não te deixa sozinho nunca, sabe das dificuldades pelas quais você passa por esse caminho e corre ao seu lado para te ajudar a passar por todas elas. Além de te ajudar, Jesus ainda te dá uma alegria e te fortalece a continuar, a não desanimar.

“Se alguém tem sede, venha a mim e beba” João 7:37

“Então Jesus declarou: Eu sou o pão da vida. Aquele que vem a mim nunca terá fome; aquele que crê em mim nunca terá sede” João 6:35

“Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e Eu lhes darei descanso” Mateus 11:28

“Por isso não tema, pois estou com você; não tenha medo, pois sou o seu Deus. Eu o fortalecerei e o ajudarei; eu o segurarei com a minha forte mão direita vitoriosa” Isaías 41:10

“Seja forte e corajoso! Não se apavore nem desanime, pois o Senhor, o seu Deus, estará com você por onde você andar” Josué 1:9

Você imaginou correr essa corrida sozinho? Imaginou corrermos essa corrida pelas nossas próprias forças, sem saber exatamente o que tem pela frente e sem ter noção do final da corrida e para onde estamos correndo? Jesus nos diz que está conosco nesse caminho. Isso é um conforto imenso, porque sabemos que Ele sabe tudo que vem pela frente e caminha ao nosso lado, nos ajudando, dando forças, nos dizendo para termos coragem e não desanimar. Isso tudo porque ele está com a gente.


Os copos d’água que Ele nos oferece podemos interpretar como a fé. Nós não vemos o final da corrida, mas quem nos dá a água sabe e, por isso, precisamos dessas doses de renovação de fé diária. A esperança que colocamos em algo que não sabemos ao certo e que pode mudar ao longo de nossa vida pode nos deixar confusos, talvez desanimados, sem muitas perspectivas. Mas Deus tem perspectivas para nossa vida, alvos lindos pelo caminho e um alvo mais lindo ainda ao final. A esperança em Deus produz em nós essa confiança de que Ele está com a gente e que podemos continuar correndo, sem medo, porque sabemos que estaremos com Ele desde agora e para sempre.

Seria muito complicado viver esse caminho pelas nossas forças, sem esperança, não é? Muitas pessoas vivem assim e precisamos estar atentos e juntos com elas também. Nós mesmos já podemos ter tido nossos momentos de tristeza, mas encarar momentos constantes e frequentes contribui de forma muito negativa na vida das pessoas que sofrem com isso. Deus nos diz que precisamos viver em comunhão e que isso nos faz bem porque foi propósito Dele ao nos criar, porque Ele vive em comunhão (Pai, Filho, Espírito Santo), e sabe como é bom viver dessa forma.

“Como é bom e agradável quando os irmãos convivem em união” Salmos 133:1

“Amem-se uns aos outros. Como Eu os amei, vocês devem amar-se uns aos outros. Com isso todos saberão que vocês são meus discípulos, se vocês se amarem uns aos outros” João 13:34-35

O setembro amarelo nos dá espaço para conversarmos sobre depressão, que é a principal causa mundial de suicídio, juntamente com aspectos culturais, regionais, sociodemográficos. Dentre os fatores de risco mundiais estão tentativas anteriores de suicídio, doenças mentais (depressão e abuso/dependência de álcool e drogas), ausência de apoio social, histórico de suicídio na família, forte intenção suicida, eventos estressantes e características sociodemográficas, como pobreza, desemprego e baixo nível educacional. Já entre jovens brasileiros de 18 a 30 anos, os principais fatores de risco são família de origem disfuncional, instabilidade econômica, experiências de violência física/sexual, moradia em comunidades violentas, condições insalubres de trabalho e comportamentos de risco como uso de drogas e sexo desprotegido. Falando do nosso país, na classificação mundial em relação aos dados registrados sobre números de suicídio, nós estamos ocupando a 67ª posição e, em números absolutos, estamos entre os 10 com mais suicídios registrados.

Os números nos chocam, mas, mais do que números, são pessoas! São pessoas e são nossos semelhantes, pessoas que podem estar vivendo ao nosso lado e que podem estar pensando em cometer suicídio. É para chocar porque precisamos acordar para isso.

Um artigo que comenta sobre um debate sociológico desencadeado por Durkheim mostra que o suicídio tem uma dimensão individual e uma social. Na individual, o suicídio é considerado um distúrbio de saúde individual e analisado por profissionais de saúde mental e pelas várias escolas de psiquiatria e psicologia. Já na esfera social, é o resultado da pressão pela ordem que a coesão social exerce sobre os indivíduos. Aqui, não se trata de problemas individuais de saúde, mas de problemas sociais e econômicos.

Somos responsáveis em relação a amarmos uns aos outros. Se pararmos para pensar, a esfera social interfere na individual. Se analisarmos pela dimensão social do suicídio, veremos que muitos fatores de risco podem ser evitados com amor, com apoio uns aos outros e estamos falhando nisso. Estamos falhando em sermos sociedade, em sermos um corpo, não estamos vivendo em comunhão e não estamos amando uns aos outros. Somos criados para viver em comunhão, Deus nos fez assim e quando essa união é quebrada ou não é construída, nos sentimos sozinhos, e esse sentimento de solidão preenche nosso coração de uma forma que a única solução parece ser não mais existir. Muitas pessoas sentem esse sentimento e esse desejo e precisamos falar sobre isso, inclusive com quem pensa em retirar a própria vida. Não podemos ignorar o fato de que pessoas tem escolhido esse caminho como solução.


Vimos que Deus está ao nosso lado e o amor Dele por nós é tão grande. Ele não quer nos ver dessa forma. Ele não quer nos ver marginalizando nosso próximo, nos colocando como superiores, ridicularizando, destruindo sonhos, criando padrões sociais que segreguem grupos, enfim, o propósito não era que vivêssemos pensando apenas em nós mesmos, mas sim no próximo e na coletividade. Por isso, se você conhece alguém que está passando por essa situação, não deixe de conversar, de ser amigo, de estar junto. Ouça. Seja um bom ouvinte e ajude quem precisa. Se você está pensando em tirar sua própria vida, não faça isso. Saiba que Deus te ama e que Ele está ao seu lado, procure ajuda de um amigo próximo e converse sobre isso. Não se isole, não se sinta sozinho, porque você não está. Se todos nós nos ajudarmos estaremos colocando em prática o amor que Deus tem por nós. E esse amor é revolucionário, Ele nos transforma e transforma nossas vidas, dando sentido à nossa existência e nos ajudando a percorrer o difícil caminho.


Stéphanie Elise.

Referências:

Bíblia.

Confiança cega, de Brennan Manning.

Dados suicídio/tentativa geral (incidência, fator de risco, perfil do suicida). Análise epidemiológica do suicídio no Brasil entre 1980 e 2006 https://repositorio.observatoriodocuidado.org/bitstream/handle/handle/53/rbp.S1516-44462009000600007.pdf?sequence=2&isAllowed=y

Risk and protective factors for suicide attempt in emerging adulthood. (Fatores de risco e proteção para tentativa de suicídio na idade adulta emergente) http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232018001103767&lng=en&nrm=iso&tlng=en

An approach to suicide among adolescents and youth in Brazil. (Uma abordagem ao suicídio entre adolescentes e jovens no Brasil) https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/30281721