quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

Chega dessas coisas chatas todos os dias

Deixo aqui abaixo um texto que escrevi sobre uma cena lamentável que presenciei em setembro do ano passado. Que essa cena possa nos fazer ser pessoas melhores, que pensam no próximo como pensamos em nós mesmos.

“Hoje, quando voltava da faculdade, já na estação Uruguai, me deparei com uma cena que me deixou muito irritada, de verdade. A porta do metrô tinha sido aberta e as pessoas estavam tranquilamente entrando e saindo simultaneamente, como sempre. Entretanto, um homem, idoso, ao sair do metrô, esbarrou em uma moça, nova, que estava tentando entrar. Não foi descuido. Foi proposital. Ela começou a gritar, porque havia sido quase jogada no chão pela força do empurrão do homem. Sua amiga a ajudava nos gritos desesperados de mulheres que não aguentam mais serem vítimas de violência e nada acontecer a seu favor. O homem não virou. Continuou andando, calmamente, seguindo seu caminho, como se nada tivesse acontecido. Não pediu desculpas. Nenhum sinal de arrependimento. Foi proposital. Senti tanta raiva naquele momento. Ninguém prestou ajuda, a menina foi vítima de um empurrão “desnecessário”, não que outros sejam, mas aquilo foi ridículo! Não tinha necessidade. Se ele queria espaço para sair, ele tinha, não era esse o problema. Porque ele não se virou e pediu desculpas? Porque a violência contra a mulher, contra o ser humano está tão normal, que não é necessário... porque ele a empurrou? Talvez por ela ser negra? Ah é, esqueci desse detalhe, né? Como se fosse sempre uma justificativa para essas cenas lamentáveis. Ela era negra. Ah, esqueci de mais um detalhe! Havia mulheres brancas também naquele tumulto para entrar no metrô. Porque ele escolheu essa menina negra pra ser sua vítima? Nada justifica o que vi hoje. Para piorar, nenhum segurança do metrô ou qualquer outra pessoa foi ver o que estava acontecendo. Ninguém perguntou se a menina tinha se machucado. Nenhuma humanidade. Fiquei realmente indignada com essa cena e como ela foi vista como normal pelas pessoas ao redor, porque, afinal de contas, ninguém mexeu um dedo para nada naquele lugar. Agora, uma pergunta pra gente refletir: se eu tivesse, por acaso (e era minha vontade, sério), dado um chute “sem querer” ou um empurrão naquele homem, será que as reações seriam diferentes? Será que alguém ligaria? Afinal, eu estaria batendo em um senhor indefeso, né? Que estava somente querendo chegar ao seu destino e foi interrompido por um empurrãozinho. Ah, pelo amor, né?! Fiquei e ainda estou indignada. Só não consegui falar com a menina porque a porta do metrô fechou. A última cena que vi foi a menina gritando dentro do metrô, com sua amiga, solidária, que também era negra e sente o que ela sente. Compaixão. Vamos ser mais humanos, por favor? Chega dessas coisas chatas todos os dias.”

Stéphanie Elise

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